verdade é que já amei. Só depois de velho, mas ainda assim é considerado pelos tolos amor. E era assim que eu só vivia a pensar nela: aquela menina do vestido amarelo-ouro, que me cegava as vistas, desfilava para lá e para cá, sempre às quatro horas da tarde. Desfilava só para si, e mais ninguém. Mas escondia-me atrás das árvores antigas de tronco grosso e ficava a espiar aquela beleza incomum, que era só dela.
O sol desaparecia do céu e tinha que voltar para casa, em passos lentos. Não me arriscava a dar mais que três passos por metro. Não enxergava mais que um palmo a frente do meu nariz, porque lá estava ela, gravada na minha retina, dançando e sorrindo, e como sorria! A coisa mais linda de se ver!Pegava-lhe a mão e andávamos juntos até o portão de minha casa. Mas ao entrar, era como se ela fosse feita de pó: desaparecia, só me sobrando minúsculas partículas cinzas pelo chão, e a vergonha, por eu, velho decrépito, ter me apaixonado por alguém que ainda nem havia começou a viver.